segunda-feira, 7 de julho de 2008

TONUCCI, Francesco. Quando as crianças dizem: agora chega!. Porto Alegre: ARTMED, 2005.

  • Síntese realizada pelas alunas do curso de graduação em Pedagogia, da UNISINOS, do Programa de Aprendizagem Ambientes de Aprendizagem.

Apresentação:

Esse livro recolhe os 11 anos de experiência realizada na cidade de Fano, na Itália, e em outras cidades, em diferentes países, onde as crianças, entre 6 e 11 anos, participaram do projeto “A cidade das crianças”. As opiniões, de como as crianças vivenciaram e expressaram a realidade da vida da cidade, fizeram pensar, refletir e trazer novos pontos de vista e discussão aos governantes.
Tonucci, na introdução, ressalta ainda que as crianças nunca falam “agora chega!”. Essa é uma expressão própria da linguagem e do mundo dos adultos. Para as crianças existe somente o presente, eles aprendem cedo a dizer “agora, em seguida!”. Segundo o autor: “Para os pequenos, os fracos, para os pobres existe somente o presente e, se eles são privados disso, estão perdidos.” (p. 17)
Outro ponto importante na introdução é a idéia de que ouvir as crianças é colocar-se ao lado delas, é estar disposto a defender suas posições, seus pedidos e necessidades. È necessário reconhecer que eles são capazes de dar opiniões, idéias e de fazer propostas sabias para resolvermos problemas.

Para serem felizes. - O direito ao jogo. - Onde se pode brincar.

As crianças ouvidas ressaltam a necessidade do convívio com outras crianças e denunciam a solidão. Para ser feliz é preciso a presença dos outros, dos amigos, dos irmãos.
No atual contexto, as crianças, são vistas como estorvos, motivo de bagunças e sinônimo de incomodação ao brincar e transitar pelos espaços públicos. Não podem brincar em qualquer lugar ou a qualquer hora. Assim é necessário abrir outros espaços físicos como, por exemplo, o pátio da escola nos horários em que está fechada, nos finais de semana e feriados, para respeitar o direito que tem ao lazer, a recreação, ao divertimento.
Para os pequenos toda hora e todo o lugar é bom para brincar. Através do jogo, toda criança descobre o mundo, os limites, experimenta seus conhecimentos e suas habilidades, conhecendo-se a si mesmo e aos outros.

Aline Baierle, Josiane Oliveira Leite e Maria Inês Matilla.

Não temos espaço. – Brincar de graça. – Sem treinador.

Historicamente as crianças não são ouvidas ou não são levadas a sério pelos adultos. Elas querem ser ouvidas e, mais do que isso, que suas falas, desejos e sonhos, sejam consideradas. Seu futuro é planejado pelo adulto e se ela puder optar entre o agora e o depois, a criança optará pelo agora.
As crianças alertam que há pouco espaço para que possam brincar, as ruas estão cheias de automóveis e não podem brincar, viver se divertir. O excesso de automóveis é um problema gigante em nossas cidades e não é preciso que uma criança nos diga isso mas, mesmo sabendo deste problema não fazemos nada para que esta realidade se modifique.
As crianças querem um espaço para jogos mas, querem isso gratuitamente pois, não é certo que tenha que pagar para poder brincar. Também precisa ficar livre para fazer suas escolhas esportivas.

Luana, Lauana, Geni e Marluci.

Um dia para brincar. - Sozinho. - Brincar em segurança. - É melhor com os avós.

Criar tempos e espaços para a convivência entre adultos e crianças, não aqueles espaços especializados mas sim lugares de circulação públicos e que possam interagir através de jogos e outras atividades e também para que as crianças possam desfrutar novamente um espaço que já foi seu: a rua. Essa proposta já é realizada em Rosário, na Argentina e pode muito bem ser planejada e aplicada em qualquer outro lugar, de qualquer país. Pois o poder público nesta cidade acatou o pedido das crianças e os adultos também foram beneficiados.
A interação das crianças com os idosos também traz muitos benefícios, pois com eles, não são tão controladas e tutoradas. Elas aprendem que por uma pessoa ter uma idade mais avançada não significa que ela deva ser isolada do convívio da família e da sociedade. É certo que as ruas devem oferecer segurança para as crianças e isso envolve a sociedade como um todo.

:Edla Brito, Aline Okada, Juliana Sironi e Tatiane Machado.

A pé. - A bicicleta é mais democrática. – Para a escola vamos sozinhos.
As cidades são pedaços do mundo.

Atualmente as crianças perderam autonomia de ir e vir com segurança. Nos anos setenta era normal às crianças irem para as escolas a pé e sozinhas, assim no caminho iam conhecendo melhor a cidade e encontrando com os amigos pelo caminho. Com o passar dos anos foi se interiorizando a idéia de que os pais cuidadosos estavam presentes em todos os momentos da vida de seus filhos amados, com isso os levam para a escola, para casa de amigos, e assim por diante, tornando o contato de seus filhos com o mundo exterior cada vez menor e mais difícil. O autor relata a importância da autonomia das crianças que pode ser expressa através de ir a escola sozinhos, a pé ou de bicicleta, assim têm a oportunidade de conhecer melhor a cidade onde mora.

Cátia Dutra da Rosa, Carla Silvana Jarotzky, Aline Corso, Fabiane Diasconzi Perraro e Ciana Weingarten

Uma calçada para a família. - Muitas praças. - Se vocês constroem nós não podemos brincar. - As casas são próximas porque os amigos têm que ficar perto

“Em uma calçada deve poder passar uma família”. (Corigliano Calabro). As crianças fazem propostas concretas, razoáveis, possíveis se aceitarmos enxergar a relação de poder entre o automóvel e os pedestres. Elas são ótimas consultoras sobre as características e funções das calçadas, porque essas são ruas das crianças. A calçada poderia ampliar-se em alguns pontos e dar espaço e assentos ou a infra-estrutura para jogos.
“Não importa se as praças são pequenas, basta que sejam muitas”.(Rosário); “Quando se constrói em um espaço verde ou livre se diminui o espaço de jogo das crianças”.(Fano) Não é somente o verde que precisa nas praças, e sim de pequenas áreas próximas às casas onde possam brincar sem a preocupação dos adultos. Deveriam ter “cidades pequenas” dentro dos bairros, com praças, supermercados, escola, farmácia, etc.
“A casa precisa ser transparente, assim eu olho fora”. (Correggio). Atualmente, as cidades são muito agitadas, com muito ruído e a casa representa um refúgio e um lugar tranqüilo, onde nos sentimos protegidos da cidade. Segundo um grupo de crianças da cidade de Fano “as crianças não deveriam ser nem grandes condomínios, nem casas particulares”, sugerem condomínios com poucos apartamentos em um local que favoreça o convívio entre eles.

Aline Corso, Carla, Gisele e Ivane Sochacki.


Existem também as crianças. - Um assessor para nós. – Espaços para comunicar-se. Adultos mais infantis.

As crianças pedem e querem estar presentes, querem ser visíveis. O Município de Réus aceitou a provocação das crianças e através do projeto “A cidade das crianças” deliberou a criação de uma praça que, em Catalão, se chama “Placa dels xiquets i les xiquetes”, que significa “Praça dos meninos e das meninas”. A cidade muniu-se de instrumentos adequados para que fosse possível aceitar esse desafio. O Laboratório é o primeiro desses instrumentos, é um grupo, um lugar, uma escolha política. É um grupo de operadores que se dedicam à programação do projeto, às exigências e às características da cidade. Organizam e acompanham as iniciativas, sabem trabalhar com as crianças, deixando a elas a palavra e defendendo suas idéias. Para que o projeto saia correto é importante que as crianças assumam um papel que é o de protagonista. Nascem assim, as experiências do Conselho das Crianças e da Projeção Participada, representada por um grupo de crianças que dá conselhos aos adultos, que oferece aos administradores o ponto de vista infantil, sendo representado por crianças eleitas nas escolas, por sorteio.
O Plano de ação nacional para a infância e a adolescência, foi criado na Itália, a partir de 1997, prevendo importantes financiamentos para projetos em favor da infância. Em particular, além de prever intervenções nos casos de abandono e de risco e serviços inovadores na primeira infância, convida os municípios a realizar ações positivas para a promoção dos direitos da infância e da adolescência, para a melhoria da fruição do ambiente urbano e natural e o desenvolvimento do bem-estar e da qualidade de vida dos menores, observando o respeito de cada diversidade.
Em uma sociedade na qual a imagem e a comunicação assumiram um papel tão determinante, as crianças têm consciência de que, para serem consideradas pelos adultos, é preciso se mostrar, é preciso chamar a atenção deles.
O Conselho das Crianças de Fano pediu “o espaço de uma página no jornal Fano Stampa”, e o Conselho de Roma pediu “uma página no periódico quinzenal para jovens do Município de Roma, II Colosseo”, a fim de que elas possam divulgar as atividades e as propostas que estão desenvolvendo no Laboratório, bem com recolher opiniões e sugestões das outras crianças da cidade.
Um pequeno conselheiro numa reunião do Conselho da Criança diz: “Os guardas de trânsito, quando falam conosco, deveriam ser mais infantis” (Fano). É preciso que o adulto se dê conta de que já foi criança uma vez, mas parece que esqueceu. Recordar nossa infância pode ser de grande importância para sermos bons adultos, para nossos filhos, para nossos alunos, para os pequenos cidadãos ou simplesmente para a criança que encontramos na rua. Gianni Rodari (1979) refere-se “ao ouvido imaturo que os adultos deveriam ter para saber ouvir as crianças e na sensação tantas vezes experimentada pela criança de que os adultos não conseguem compreender, de que os adultos esqueceram-se de sua infância”.

Cladis Maria Pommer da Silva, Jussara Winter e Sandra Maria Motta Capra.

Escola e não-escola. – Direitos e Deveres. – Eu senti que era responsável. – Um prefeito para as crianças.

A escola separa os conteúdos das aprendizagens do currículo como urgentes e necessários e não dá atenção às necessidades das crianças. Também não oportuniza momentos das e para as crianças que reivindicam o direito de trabalhar em conjunto. Somente o professor sabe, o aluno deve ouvir e aprender. O autor recomenda que se dê autonomia à criança e o direito de exploração e apropriação de outros espaços além de sua casa e sua sala de aula. A escola deve estar ao lado das crianças, isso proporcionaria a construção de sua cidadania. Na família também as interações devem ser de respeito e atenção e não um ambiente de cobrança e um prolongamento da escola, onde a criança deve trabalhar, ajudar a família, fazer temas e deveres de casa, estudar e somente se sobrar tempo, ocupar-se do brincar livre. A criança quer e necessita ter um tempo e um espaço só seus, sem policiamento e vigilância que inibam a sua criatividade, mas o apoio e o carinho da família são indispensáveis. A participação efetiva das crianças na família, na escola e na cidade, opinando, expondo suas idéias, na certeza de serem ouvidas, de que podem contribuir para melhor e ter suas reais necessidades atendidas, traz responsabilidade à criança. Quando os adultos se dispuserem a ouvir as crianças sobre situações reais, elas se envolverão e trarão soluções. É o que demonstra a experiência “A cidade das crianças”. As crianças passaram a integrar um conselho em que tomaram conhecimento dos problemas da cidade. Algumas consideravam chatas as reuniões, mas essa atitude mudou a partir do instante em que elas sentiram que podiam influir nas decisões, que sua opinião era ouvida. A partir desse momento, passaram a se envolver cada vez mais e isso desenvolveu seu senso de responsabilidade e, sem dúvida, sua compreensão do sentido de cidadania.

Leoncina Garin e Paula Seferin

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